Saiba agora de onde surgiu a Campanha do Setembro Amarelo:
O Setembro Amarelo é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Segundo a Associação Catarinense de Psiquiatria, a cor da campanha foi adotada por causa da história que a inspirou:
“Em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida em seu mustang 1968 amarelo. Seus amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike, e a mensagem foi se espelhando mundo afora.”
O carro era um Mustang 68 hardtop, completamente restaurado pelo próprio Mike e pintado na cor amarelo brilhante. Os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha do programa de prevenção do suicídio "fita amarela", ou "yellow ribbon", em inglês
A paixão é o começo para tudo, inclusive para o Empreendedorismo.
Entusiasmo, glamour, dinheiro e poder. Essa é a imagem que muitas pessoas tem quando pensam em empreendedorismo e startups.
De fato em muitos círculos sociais, o reconhecimento, admiração e fama que um empreendedor de sucesso tem são enormes.
Não há dúvidas de que empreender tem sim sua glória e principalmente uma importância enorme.
Acreditamos, inclusive, que a forma mais efetiva de contribuir com o desenvolvimento do Brasil é aliando o fomento ao empreendedorismo com mudanças profundas na educação.
Entretanto, nem tudo são flores. Existe um lado obscuro da vida do empreendedor que as pessoas não veem e é muito pouco discutido.
São vários dramas psicológicos vividos e desencadeados por pressão inimaginável: dos clientes, dos funcionários, do governo, da família, de si mesmo.
Há aqueles que conseguem dar conta por um tempo, mas muitos sofrem de crise de ansiedade e outros chegam até em quadros de depressão.
Nesse post, vamos conversar sobre os bastidores desse mundo, expor as batalhas internas que estão sendo travadas por aí silenciosamente e mostrar os efeitos na saúde desse profissional.
Dessa forma, talvez comecemos a mudar o curso de algumas histórias para melhor.
O efeito fisiológico do empreendedorismo
Muitos empreendedores definem empreendedorismo não como uma profissão, mas como um estado de espírito. Concordo plenamente com essa perspectiva e a psicologia não me deixa mentir.
De fato, o estado psicológico em que o empreendedor entra é exatamente o mesmo provocado em alguém que está apaixonado. Uma das características que descrevem essa disposição é a hipermotivação.
Em outras palavras, o empreendedor passa acreditar que capaz de fazer tudo acontecer, o que chamo de síndrome do “super homem” ou da “mulher maravilha”.
“Repare que os efeitos fisiológicos e sintomas da paixão são idênticos aos que o empreendedor você tem com seu projeto ou negócio.”
Em termos neurológicos, essa euforia induz a produção de substâncias que inibem a parte do cérebro responsável pela lógica, processo chamado de inibição pré-frontal.
Esse estado, por sua vez, pode gerar um transtorno obsessivo-compulsivo.
É por isso que, não raro, vemos tantos empreendedores apaixonados, motivados e obcecados abrindo mão da família, amigos e até da saúde por um propósito muito grande e claro.
Na prática, isso muita vezes explica o fato — e só quem se apaixonou alguma vez pode entender — de um empreendedor não conseguir pensar em outra coisa senão o trabalho… trabalhar de forma incansável e estar “sempre ligado”, da mesma forma que a ideia fixa da pessoa que o cupido trouxe.
Enfatizo o seguinte: se você é empreendedor, repare que os efeitos fisiológicos e sintomas da paixão são idênticos aos que você tem com seu projeto ou negócio.
Para mais detalhes, recomendo este vídeo até o minuto 2:30.
Relação entre saúde mental e empreendedorismo
Muita gente entende que empreender é sinônimo de arriscar. Ainda que seja para alcançar um novo patamar profissional e se tornar um bom “chefe de si mesmo”, o empreendedor, de fato, precisa estar pronto para lidar com situações inesperadas e extremamente desafiadoras.
Por conta da insegurança, principalmente no início de um projeto, pessoas empreendedoras costumam ficar mais suscetíveis ao estresse, à fadiga e à ansiedade.
A depressão também é outra grande inimiga do empreendedorismo. Ela costuma aparecer diante de cenários imprevistos ou períodos de dificuldade financeira pelos quais empresários – sejam eles donos de pequenos ou grandes negócios – estão sujeitos a passar.
Assim, a relação entre empreendedorismo e saúde mental é bastante próxima, estando o empreendedor, de certa forma, dependente da fluidez e qualidade das suas emoções para atingir suas metas e realizar seus projetos.
Abaixo a lista dos principais desafios e como isso afeta o dia a dia do empreendedor:
Autoconhecimento — empreender pelo "motivo certo"
O primeiro desafio é autoconhecimento.
Aqui entram reflexões do tipo: o que te levou a empreender?
A motivação que escolheu foi intrínseca ou extrínseca?
Esse autoconhecimento é fundamental, porque se a motivação de empreender é extrínseca, o reservatório de energia pode acabar muito antes do esperado.
Dificilmente o empreendedor conseguirá suportar todos os desafios e ter sucesso com esse tipo de motivação.
Nessa categoria entra dinheiro, fama e qualquer tipo de recompensa que dependem do mundo exterior.
Por isso, o mais importante é fazer essa reflexão e garantir que está empreendendo por um motivo que possui a recompensa em si mesmo, isto é, uma motivação intrínseca.
Ela é algo bem interno, pessoal e que muitas vezes só você conseguirá sentir exatamente da forma como sente.
Sua causa não precisa necessariamente ser nada que o mundo classifique como grandioso.
Muito pelo contrário, o ponto principal é garantir que seu empreendimento está baseado nesse “porquê”, uma vez que a função dele é te abastecer com resiliência o suficiente para o turbilhão de emoções que vai surgir inevitavelmente no caminho.
Solidão
Na mesma medida que seu propósito vai te dar resiliência, ele também traz uma boa dose de solidão.
Não é justo esperar que as pessoas que trabalham para você tenham o mesmo sonho e motivação na mesma intensidade que o seu.
É a vida. As pessoas possuem propósitos diferentes.
Em função disso, o empreendedor precisa ter energia suficiente tanto para lidar com suas próprias questões, quanto para incentivar seus liderados para que façam pelo menos o suficiente na direção do seu sonho.
Ainda por cima, ele não costuma ter com quem compartilhar as suas dores, medos e anseios.
Por sentir que precisa mostrar confiança 100% do tempo para inspirar seus funcionários, investidores e o mercado, acaba lidando com os problemas de forma solitária.
Aos poucos essa solidão incomoda cada vez mais.
Pressão por resultados
Este fator, de longe, é um dos principais desafios de quem está à frente de uma empresa.
Alguns empreendedores podem perder o equilíbrio mental simplesmente por este elemento isolado.
A pressão por resultados, que é o estresse que vem da cobrança pela melhoria constante de performance, possui 2 principais fontes: a interna e a externa.
A interna tem a ver com pressão que vem do próprio drive que o profissional possui para realizar seus objetivos.
Já a externa, está relacionada à pressão exercida pela expectativa que investidores, funcionários e demais stakeholders possuem em relação à performance da empresa.
Logo, para lidar de forma saudável com essas duas fontes, é importante se desenvolver bem a autoconhecimento para lidar com a parte interna e alinhar expectativas de forma sustentável com sua capacidade, para lidar com o que vem de fora.
Mudanças constantes
As coisas no mundo empreendedor mudam muito rápido, o que gera uma “montanha russa” de emoções.
É muito comum acordar com uma notícia excelente e terminar o dia com uma situação completamente oposta. É como estar estar visitando o céu e o inferno no mesmo dia.
Em razão disso, o empreendedor precisa estar “malhando bem seus músculos” para desenvolver inteligência emocional.
Isso se relaciona bastante com a questão da solidão, o que indica a necessidade de se criar rituais internos para lidar com as vozes conflitantes que estão brigando no ringue da sua mente.
Gerenciamento de altos riscos e imprevisibilidade
O mercado é complexo e volátil.
O produto pode não ter fit com o público, os sócios podem mudar de premissas, os funcionários podem não produzir bem, os impostos, leis, e a burocracia nem precisamos comentar.
Todo esse risco e imprevisibilidade consomem uma grande quantidade de energia mental e exigem do empreendedor uma resiliência muito grande.
Uma hora o empreendedor pode cansar de apanhar
Por mais bonito e verdadeiro que seja o discurso, manter a intensidade e sacrifício a partir de certo momento não é mais sustentável.
Por mais heróico que alguém possa parecer, no final do dia ninguém é de ferro sob uma condição de estresse constante e indefinidamente prolongada.
E não se atentar para esse limite é bastante perigoso, pois pode gerar consequências drásticas para a saúde no curto, médio e longo prazo.
E não estamos falando só dos casos de insucesso. Mesmo se o negócio estiver indo bem, o desgaste pode ser tamanho, que a conta não fecha.
Infelizmente, saúde mental ainda é um tabu no meio empresarial.
E isso não se aplica apenas aos empreendedores, mas na sociedade em geral.
Falar sobre esse tema muitas vezes pode soar como “frescura”, “corpo mole”, “não quer trabalhar”, “não aguenta a pressão” e assim por diante.
O fato é que a maioria ainda pensa que saúde mental é apenas a ausência de doenças mentais.
Porém, ela vai muito além disso.
Segundo a OMS, a saúde mental é definida como um estado de bem-estar em que cada indivíduo tem ciência do seu potencial e pode lidar normalmente com os estresses da vida, trabalhar de forma produtiva e proveitosa e é capaz de contribuir para sua comunidade.
Pessoas com mente sã agem conforme a premissa de que ninguém é perfeito e que não se pode ser tudo para todos ao mesmo tempo.
Enfrentam as oscilações de emoções e não têm medo de procurar ajuda quando têm dificuldade em lidar com conflitos.
Quando os profissionais não pedem ajuda é que podem surgir vários problemas.
Nesse contexto, gostaria de enfatizar 3 consequências que, apesar de serem bem comuns, são pouco discutidos em profundidade no meio corporativo.
São a crise de ansiedade, depressão e exaustão.
Ansiedade
Tanto a ansiedade quanto o medo são estados emocionais importantes no nosso dia a dia e com papel fundamental na evolução humana.
Afinal, o medo faz o indivíduo evitar perigo próximo e a ansiedade mantém o indivíduo alerta para que seja possível um desempenho máximo — físico, emocional e psicológico — sob stress.
O problema surge quando, constantemente expostos a condições extremas, a ansiedade deixa de cumprir apenas uma função útil e passa a se tornar um transtorno: transtorno ou crise de ansiedade.
Esse transtorno se torna um desequilíbrio mental e físico que são fortes o suficiente para interferir nas atividades do dia a dia.
Quando em crise, é possível ter os mais diversos sintomas. Alguns exemplos:
No corpo: fadiga, inquietação e sudorese
Sono: insônia e pesadelos
Comportamento: hipervigilância ou irritabilidade
Cognição: pensamento acelerado, dificuldade de concentração
Outros aspectos: boca seca, medo constante, síndrome do impostor, náusea, palpitações e tremores.
Depressão
A depressão é um estado emocional grave que tem origem em crenças que são criadas e reforçadas ao longo da vida. Essas crenças vão se somando a partir de frustrações e assuntos mal resolvidos até o ponto que desencadeiam uma maior produção de cortisol, hormônio que altera o estado de humor e ajuda a reforçar as crenças e pensamentos negativos, autossustentando esse ciclo.
Exaustão
A exaustão seria não seria em si uma doença, mas o sinal mais nítido de como o empreendedor pode estar perdendo o rumo das coisas.
Ela vêm como uma consequência do desequilíbrio emocional ou mental, pois o profissional tenta compensar fisicamente o que está faltando nas outras dimensões.
Quem está passando por exaustão ou estafa pode até perceber que não está com a energia num bom nível, mas dificilmente toma alguma atitude em relação a isso, porque estar cansado é algo normal em todo papel desafiador.
Por outro lado, a constância desse estado é preocupante, justamente porque pode ser o indicador da ansiedade e depressão discutidos acima.
Em razão disso, é muito importante contar com o apoio de pessoas ao redor — e no caso do empreendedores mais solitários — de um profissional como psicólogo, psiquiatra ou terapeuta, pois quem está de fora percebe com mais facilidade e pode interceder mais rapidamente no desequilíbrio antes que se torne algo mais grave.
Lidando com as emoções: 3 estratégias para empreender com sucesso
Por todas as razões apresentadas e mais uma série de motivos que envolvem o empreendedorismo, é preciso dedicar atenção e cuidado à saúde mental, antes que a falta de controle das emoções prejudique o andamento dos negócios e forme uma barreira que impeça o empreendedor de alcançar o sucesso profissional.
A seguir, listamos algumas estratégias para cuidar das emoções que, inclusive, são benéficas ao empreendedorismo:
1. Mantenha seus vínculos sociais
Atenção: não estamos falando de network! Ao contrário, manter contato com pessoas para além dos assuntos do trabalho é fundamental quando se deseja alimentar as sensações de bem-estar e produtividade.
As suas conexões com pessoas queridas aumenta a felicidade e afasta os sentimentos de solidão, além de diminuir significativamente as possibilidades de ser afetado pela depressão. Dessa forma, a dica é sempre cultivar as amizades e vínculos, sem esquecer, é claro, dos relacionamentos românticos.
Embora muita gente acredite que se relacionar com alguém pode tirar o foco e desviar a atenção de coisas importantes (vide o trabalho), é certo que relacionamentos saudáveis tendem a contribuir ainda mais para o bom andamentos dos negócios e ser um estímulo para a busca dos objetos de quem empreende.
2. Promova o autocuidado
Esqueça a velha desculpa do “eu trabalho demais, não tenho tempo para isso!”. Você precisa achar um caminho para cuidar de si, pois a falta de atenção consigo pode trazer sérias consequências e pôr a perder todo o investimento – de tempo e dinheiro – num empreendimento.
Portanto, arrume um tempinho em meio a correria diária para praticar um esporte ou atividade física que seja prazerosa. Dê atenção às coisas que trazem prazer fora do trabalho e considere os momentos de lazer tão sagrados quanto as obrigações da empresa.
E, acima de tudo: tire férias! Planeje sua vida profissional de empreendedor de modo que possa passar um período afastado das atividades, descansando e repondo as energias. Só assim a continuidade dos projetos será fluida e correrá mais rápido rumo ao sucesso.
3. Busque o autoconhecimento
Essa é a dica de ouro, e tê-la deixado por último não significa que tenha menos importância. Muito pelo contrário! Praticar o autoconhecimento é a principal estratégia de quem busca cuidar da sua saúde mental e ter maior controle das emoções.
Isso faz com que a psicoterapia seja uma grande aliada do empreendedorismo e possibilite desenvolver a capacidade de administrar crises e solucionar problemas com mais assertividade.
Entre tantos desafios e incertezas da vida de empreendedor, também existem benesses que não podem se perder no meio do caminho. Para isso, é preciso saber administrar os sentimentos de forma consciente, para entender como eles afetam sua rotina e o que pode ser feito para evitar ou excluir as interferências negativas.
Conclusão
Apesar de toda a complexidade que um quadro de desequilíbrio psicológico em um empreendedor possa oferecer, isso não é o fim do mundo.
Se você está passando por algo parecido, espero que esse texto já tenha gerado um pouco de alívio, por simplesmente conversarmos sobre o problema.
Há como “tratar”, amenizar, reequilibrar antes de qualquer agravamento. Começar a conversar e expor o assunto é o primeiro passo para começarmos a nos tratar.
Remover tabus, investir em autoconhecimento e buscar ajuda de profissionais como psicólogos, psiquiatras ou terapeutas vem logo em seguida.
Uma sugestão para tratamento é o uso da Terapia Cognitivo Comportamental, que possui uma visão bem moderna, empírica e pragmática para lidar com esses problemas.
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Principais referências para a escrita desse texto:
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